Este não é um post. Este não é um atrufio.
Soube há tempos que morreu um colega meu. Quem diz meu, diz nosso, uma vez que foi aluno no IST durante algum tempo.
Já há muito que não sabia dele, mas mantinha uma imagem mental e uma ideia de quem era para mim e como lidar com ele. Acho que fazemos isso com toda a gente. Posso ser só eu. Mas enfim, sabia quem era para mim. O que me pergunto hoje é se ele também o sabia. Que nunca me pareceu frágil, que não chamava atenção para ele mas sabia fazer-se sentir num grupo. Que tinha a minha admiração, de certa forma. Era um amigo meu.
Entretanto ocorreu-me que há muita gente que mal me reconhece agora. Ou, reconhecendo, não sabe quem sou.
Ora, há pessoas que gostava que soubessem o que penso. Que gostava não ter a sensação de que não disse ou não pude dar a entender como as vejo. Restringindo ao IST, lembro-me de algumas pessoas. Com quem não falo, não tenho tempo, não contacto. Mas encontrando-as, vou buscar sentimentos e ideias que são particulares a elas. E essas pessoas podiam saber.
Ocorre-me o Pedro. De quem nunca me lembro o último nome, mas o gajo é fácil identificar, portanto nunca foi um problema. Uma torre daquelas não desaparece na multidão.
Estranhamente, é das pessoas com quem menos me dei. Inspira confiança, fala pouco e atinadamente. Ganhou o meu respeito muito, muito depressa. E continuo sem falar com ele.
Também me dei conta que muito do que tenho pa escrever bate nos mesmos conceitos: confiança, respeito, amizade e coisas que tais. E de que não posso escrever sobre toda a gente - suponho que não ser especial nem desprezado seja inevitável.
O Jorge, de igual modo, devia saber literalmente o que acho dele. Merece. Apareceu no IST com a atitude de um puto rebelde, um palhaço. Nem vi potencial nele, quando o conheci tinha uma missão, um objectivo. Quebrá-lo. Tinha de ser o Padrinho difícil, lixá-lo e ver que limites é que ele tinha. E durante algum tempo foi apenas isso que via nele. E depois ele começou lentamente a mudar. Um palhaço, sempre, mas que agora fazia rir e não chorar. E com isso, ganhou primeiro uma tolerância, e depois, confiança. É um amigo, sem dúvida. Parvo, mas um amigo. Viva a Lourinhã -.-
Tenho também pessoas com o prisma oposto. O Lemos, por exemplo. Sem quem, no início, dificilmente teria sobrevivido ao impacto do IST. O Lemos foi o melhor amigo que precisava, uma companhia que te ajuda a tirar o melhor de ti. Não em relação aos estudos, mas isso é dificilmente o que estava em causa. Com o Lemos criei uma imagem, um círculo de amigos coeso, uma área de conforto. Depois chocámos por causa de algo. Durante muito tempo, demasiado tempo, pensei que se resolvesse por si só. E quando decidi agir já ia tarde. Nunca mais recuperámos a relação próxima que tínhamos, e neste momento reconhecemos a existência um do outro. Eu mantenho o respeito que tenho por ele, dou-lhe todo o crédito e mais algum, chega a raspar a admiração por quem é. Mas o que perdemos nem sei o que era. Mas sei que é raro, uma vez que está dificil encontrar amigos daquele nível.
O Ticas ! Este tenho uma admiração pela paxorra que ele mostra com tudo e todos. Eu explodia.
Aliado à personalidade paciente tem um jeito de analisar e avaliar situações que o ajudam imenso. Quando está errado torna-se simplesmente irritante, mas as situações em que acerta fazem dele uma ajuda impressionante. O Ticas ajudou a perceber Química, amigos, até a mim próprio. Mas ele sabe. E isso torna-o, novamente, irritante. Mas merece a minha paciência nesses momentos, um equilíbrio que vou manter enquanto puder e me for humanamente possível. E ele sabe.
As minhas duas Afilhadas...Ambas espetaculares, diga-se. Uma mais estouvada que a outra, também. A Susana com uma segurança de si que sempre me pareceu uma montanha, imóvel. Uma personalidade só dela. Que é uma beca redundante. Mas uma personalidade mesmo única. Lá está, que também pouco conheci. Mas o que sei chega para impressionar-me. A outra é doida. Isso ou tem de crescer. Segundo me chega aos ouvidos, já cresceu. Portanto a imagem que tenho dela, como de toda a gente infelizmente, está desactualizada. Mas é válida para mim, ainda. A Carolina é óptima companhia, mas tou pa ver quem a controla.
Uma pessoa, por exemplo, nem conheço. A Santa, como lhe chamo, porque ouvi chamarem-lhe tal, é uma estudante do IST - esteve no programa do Mentorado ...
É agora aluna de Doutoramento, salvo erro. Sim, Enq. Química. E embora não a conheça, a imagem que dela tenho é de alguém inteligente. Simpática também, e sempre que com ela me crusei tentei cumprimentá-la. E não a conheço. Mas a primeira imagem, o primeiro impacto, pode moldar muito a nossa percepção das pessoas. Curiosamente, a imagem que tenho dela é tão positiva que nem me interessa ir confirmar ou desmentir.
O Leite. O Leite obrigou-me a por em perspectiva a minha imagem de mim próprio. Sempre me achei doido. Vá, singular. Quando encontrei o Lemos, era perfeito - havia mais como eu. E depois o Leite trouxe a escala. Este gajo era mais louco, mais correcto, mais demente e mesmo assim, um amigo excepcional. Ultimamente nota-se a falta de comunicação - estamos a mudar a ritmos diferentes e em sentidos diferentes. Mas é assim a vida, e não faz dele menos por isso.
Podia evitar falar da amiga do top amarelo, mas suponho que seja algo inevitável. Aliás, de todas as pessoas até aqui, sem dúvida ela teve o maior impacto. A Joana Abelho foi e é ainda uma das pessoas pelas quais me dou por sortudo em ter ido ir para o IST. Mesmo que ir para o IST tenha sido dos maiores erros da minha vida - e que estou agora a tentar corrigir. Erro comparável apenas ao não perceber o quão importante ela era - que dificilmente vou conseguir corrigir. Recentemente pediu-me para não lhe falar. Suponho que esteja no direito dela, dada a história que temos. Again, por culpa minha. Mas hey, é suposto aprendermos com os erros e tal e coiso. Aprendo, mas não me faz sentir muito melhor por isso. Tanto quanto sei, está feliz e o curso corre tão bem como se pode esperar que corra, dado ser o IST. Pouco mais podia pedir. Tem todo o respeito que posso atribuir, além de um enorme sentido de dívida. Devo-lhe muito mais do que conseguiria dar. Suponho que ela saiba.
Também me enganei em relação a certas pessoas. A Isabel Paixão é um exemplo, pois quando descobri que estava enganado já era um pouco tarde. Não me entendam mal, não lhe guardo rancores ou falsos amores, apenas preferia ter compreendido melhor quem ela era quando a conheci. Sendo uma pessoa bastante mais complicada do que me pareceu, podia ter ajudado, talvez. Entra no ramo dos "e se", e portanto não vale a pena perseguir. Mas já me falhou a confiança que lhe entreguei. E por isso talvez tivesse sido melhor agir de outro modo. Uma amiga a quem guardo algumas reservas, vá.
Dei-me conta agora do egoísta que é, partilhar este tipo de conceitos. Mas que se lixe. A imagem que todas as pessoas que me conhecem têm de mim dificilmente mudará. Escrevo também com a intenção de despedida. O Aglomerado marcou, para mim, o auge de uma era passada. Mudaram amigos, espaços, atitudes, contactos, vidas. Mudei eu e mudou o mundo à minha volta. O Aglomerado foi criado por três grandes amigos. Neste momento, suponho que continuamos amigos. Mais pequenos, infelizmente. Não faz muito sentido escrever como se tudo continuasse igual.
O Aglomerado não se adaptou às mudanças.
Assim, suponho que o sentido lógico seja parar de escrever.
Alturas.
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